Nos últimos meses, a Campanha “Empregos para o Clima” tem sido discutida e articulada entre movimentos sociais, sindicatos e diversas instituições e organizações. O GAIA – Grupo de Acção e Intervenção Ambiental, apoia esta campanha. Aqui podem saber porquê e como.
A dimensão do decrescimento
Por decrescimento, entendemos a dissociação ideológica do crescimento económico e a prosperidade social. Não defendemos o decrescimento económico como fim em si, defendemo-lo antes de mais como uma ferramenta para desconstruir as noções capitalistas de riqueza, para defrontar a lógica de acumulação das corporações que privatizam o lucro enquanto externalizam os custos sociais e ambientais, e para indicar um caminho para um mundo melhor com abordagens alternativas como o buen vivir, a agro-ecologia, a soberania alimentar e a democracia energética.
Nos últimos anos vivemos um decrescimento económico descontrolado que nos foi imposto. Esta contracção na economia trouxe miséria para os pobres e empurrou muitos outros para debaixo do limiar de pobreza. Foi um decrescimento desigual onde a maioria das pessoas ficou pior enquanto os ultra-ricos continuaram a acumular riqueza. Hoje, uma em cada quatro crianças em Portugal vive abaixo do limiar de pobreza. Denunciamos esta situação e reclamamos comida, habitação, educação e serviços de saúde para todos e todas, independentemente do contributo que essas actividades trazem para a economia.
A Campanha “Empregos para o Clima” pede a criação de empregos no sector público para conduzir a transição urgente para uma economia social- e ecologicamente sustentável e equilibrada. Ao considerar os empregos climáticos como uma necessidade social e planetária em vez de entregar esta transição aos mecanismos de mercado, a campanha toma uma posição clara contra o discurso de crescimento.
Para além do passo acima, de forma a alcançar os cortes necessários nas emissões de gases com efeito de estufa, é preciso repensar as actividades produtivas humanas, como por exemplo torná-las mais locais e reduzindo a sua escala e consequente impacto nos nossos recursos comuns, tornar a distribuição mais lógica e mais justa, e reduzir significativamente o consumo sistémico. Este trabalho de fundo será defendido na campanha.
A dimensão da democracia directa
A Campanha “Empregos para o Clima” privilegia a construção de um movimento de bases sobre o trabalho de lóbi junto dos negociadores do clima. Acreditamos que a justiça climática é alcançada através de uma abordagem de baixo para cima, capacitando as pessoas e convidando-as a envolver-se nas acções locais e a participar directamente nos processos de tomada de decisão. Acreditamos que a participação dos trabalhadores é crucial na transição para uma economia solidária e ecológica. Concordamos por isso em construir pontes para as organizações sindicais.
Ao mesmo tempo, a democracia energética implica também o controlo da comunidade. Esta comunidade deve incluir todas as pessoas impactadas, tanto as pessoas que consomem ou precisam de consumir como as pessoas que produzem ou ajudam a produzir. Isto significa que precisamos de processos de organização e decisão horizontais tanto no interior da campanha como na sociedade, e defenderemos esta abordagem.
Uma revolução em curso
Concordamos que é urgente agir para travar as alterações climáticas. Consideramos que o modelo económico capitalista é a causa principal da crise climática. Sabemos que a presente luta deve ser travada durante as nossas vidas úteis. O aquecimento global apresenta o maior desafio que a humanidade alguma vez enfrentou. Para ganhar uma luta desta escala, precisamos de nada mais nada menos do que um movimento de massas.
Consideramos que a inteligência política é produzida através da acção e da interacção, não com livros ou artigos. Sabemos que a Campanha “Empregos para o Clima” não é uma receita que resolveria todos os nossos problemas uma vez que cheguemos a um consenso. Em vez disso vemos esta campanha como uma oportunidade de nos ouvirmos, de ligarmos as nossas lutas e de construirmos uma verdadeira solidariedade. Como todas as revoluções, a Campanha “Empregos para o Clima” é um trabalho em progresso que precisa da criatividade e capacidade de colaborar de todas as pessoas.