RELATO – Oficina de fecho do Diagnóstico Rural Participativo: propostas para Odemira

Dia 28 de Outubro de 2023 o GAIA, em parceria com o Centro Co-Re, organizou a Oficina de fecho do Diagnóstico Rural Participativo: Propostas colectivas para Odemira.

O Diagnóstico Rural Participativo de Odemira (DRP) iniciou em Fevereiro de 2022 e contou com 3 oficinas, onde os sistemas agroalimentares de Odemira foram caracterizados, os principais problemas identificados e analisados, e traçados os caminhos para a mudança. Esta quarta e última oficina, que contou com o apoio do projecto Erasmus+ JOIN (capacitação de jovens mulheres rurais), visou apresentar tanto os resultados do DRP como as ilações que entretanto foram tiradas, para depois, baseado nestas, construir colectivamente propostas aplicáveis ao nível local, que resolvam de forma justa e sã os problemas que se apresentam.

Na apresentação mostrou-se como foi aplicada a ferramenta TAPE da FAO (Ferramenta de Avaliação da Performance Agroecológica), que nos revelou o grau de transição agroecológica da agricultura em Odemira, visitando diferentes tipologias de agricultores/as. Mostra-nos também as injustíças presentes neste território. Enquanto uma minoria tem acesso a vastos recursos, influência e conhecimento, produzindo de forma insustentável; uma maioria, que procura dignidade no seu modo de vida rural, não tem acesso às condições para prosperar, e produzir de forma sustentável.

Transversalmente ao território, apresentaram-se as principais fragilidades (pouca diversidade de atividades, produtos e serviços; fraca produção de energia renovável descentralizada; e um baixo grau de associação de produtores), e as principais forças (autoprodução de sementes e animais, integração das árvores com as culturas agrícolas, e a comercialização de uma boa parte da produção localmente). Das oficinas participativas apresentaram-se os principais problemas mapeados coletivamente: ambientais como as monoculturas, a mineração e mega-projetos energéticos, e a exclusão dos pequenos agricultores do acesso à água; e socioeconómicos como a vulnerabilidade dos migrantes, uma agricultura baseada na exportação e exploração, com a simultânea marginalização dos pequenos agricultores e outros produtores tradicionais. Foram ainda apresentadas as principais forças deste território, tais como o forte sentimento de relação com a terra onde, sendo este um território com potencial vasto e cada vez mais humanamente diverso, surgem oportunidades para novas formas de cooperação e cruzamento de conhecimentos ancestrais e modernos.

Concluiu-se que os sistemas mais sustentáveis e adaptativos são os agro-silvo-pastoris tradicionais localizados nas regiões interiores, que vendem para mercados locais, seguidos dos sistemas agroflorestais agroecológicos.

Na segunda parte da oficina, convidou-se os/as participantes a pensar em propostas concretas que contribuam para a resolução dos desafios apresentados.

As pessoas participantes foram divididas em 3 mesas, e com a ajuda de um dos outputs de uma anterior oficina—o roteiro para a mudança—desafiadas a discutir propostas concretas, para depois as partilhar em plenário.

A educação ambiental de jovens, através da dinamização, em escolas e fora delas, de atividades participativas foi reconhecido como um ponto fundamental para a mudança. Podem ser usados mecanismos como os financiamentos ERASMUS+ ou as actividades extracurriculares (AECS) para ajudar a tornar isto possível. O GAIA já está a ter um papel importante no concelho de Odemira no que toca a atividades de educação ambiental em escolas, e necessita de mais apoio.

Uma proposta apontada como podendo contribuir de forma muito significativa para ajudar a agricultura tradicional e agroecológica ao nível local são os Sistemas Alimentares Locais Sustentáveis e Agroecológicos (SALSA). Dito de forma simples, prende-se com o abastecimento de cantinas coletivas públicas ou de IPSSs (escolas, hospitais, centros de dia, lares) a partir de produtos oriundos de uma agricultura local, sazonal e agroecológica, paralelamente à sensibilização de todos osm intervenientes. Dando prioridade política à transição agroecológica, seria possível garantir acesso a produtos sãos e justos à população, e ao mesmo tempo reforçar a produção local de alimentos, a soberania alimentar e a dignidade de trabalhadores rurais. Este sistema podia ainda ser complementado com outros instrumentos como: um gabinete municipal de apoio ao agricultor, um programa de compostagem municipal, um sistema de garantia participativa, comunidades de prática, partilha de equipamentos e unidades de transformação comunitárias.

Foi amplamente reconhecido que outra das grandes peças fundamentais para a sustentabilidade do sistema alimentar e da agricultura é a consciência ambiental e a literacia alimentar da população adulta consumidora. Para atender a esta condicionante, podem ser dinamizados eventos ligados à gastronomia local e sazonal, combinados com debates, conversas ou outros eventos comunitários, para assim tentar passo a passo fazer chegar esta urgente mensagem à população.

O DRP e as discussões entre representantes da população de Odemira puseram a nu a situação difícil, a nível social, económico, ambiental e também político que Odemira e todo o Sul de Portugal enfrentam. Só a transição agroecológica local nos permite sonhar com um futuro mais risonho.

Grupo de Acção e Intervenção Ambiental