Nos dias 5, 6 e 7 de Junho de 2015, no Pinhal Novo, encontraram-se pela segunda vez activistas de todo o país para falar e aprender sobre a situação das sementes em Portugal e no mundo no âmbito da Campanha pelas Sementes Livres.
Este encontro com o nome de Acampamento Activo Emergência da Semente 2015 foi organizado pelo GAIA e o Projecto 270, tendo o apoio de várias outras organizações e associações.
O tema chave deste encontro foi compreender a situação das sementes em Portugal e no mundo, as políticas e acordos relacionados com as sementes e como estes afectam o mercado e todo o ambiente e, por fim, pensar algumas propostas para o futuro desta campanha.
A situação das sementes é alarmante: existem neste momento acordos como o UPOV e acordos de comércio bilaterais que condicionam a troca e reprodução de sementes essenciais à sobrevivência de agricultores em diversas partes do mundo.
A ideia vendida por corporações é que as sementes tradicionais são “menos higiénicas” ou sem valor, para que se privilegiem sementes híbridas e transgénicas, que necessitam de agro-químicos porque não estão adaptadas ao meio. Estas sementes comerciais tornam-se formas de monopolizar a agricultura, uma vez que geralmente as corporações que detêm as patentes destas sementes são as mesmas que vendem os agro-químicos necessários. Adicionalmente, o ónus da prova no caso de contaminação com sementes transgénicas é colocado com o agricultor, que é frequentemente processado por “reprodução ilegal” das sementes que inadvertidamente foram parar ao seu campo. Por não falar de como todo o ecossistema é afectado pela utilização intensiva de agro-químicos e de plantas transgénicas.
Por todas estas razões e pelo facto de as corporações seleccionarem apenas as culturas que promovam a utilização de maquinaria e monoculturas, a biodiversidade das sementes e suas plantas é severamente erodida. Estas corporações detêm não só as patentes de sementes transgénicas como também as patentes de mais de uma centena de variedades de sementes não transgénicas, enquanto existem ainda cerca de 1000 pedidos de patentes para outras variedades. Ter patentes sobre sementes de cultivo é como ter propriedade sobre a vida.
O domínio dos oligopólios das sementes e quimicos sobre a alimentação está a sufocar os agricultores, as populações rurais e o ambiente. A ameaça de tratados de comércio livre como o TTIP abre (ainda mais) o caminho a estas corporações. Estes temas foram recorrentes nas várias sessões realizadas durante o acampamento, como, por exemplo, a conferência “Biocapitalismo Global vs Soberania Alimentar Local”, que decorreu no segundo dia do acampamento.
Foram partilhados, entre outros, conhecimentos sobre os diferentes tipos de sementes, políticas relacionadas com as sementes, acordos e patentes sobre sementes, uma explicação sobre em que consistiu a Revolução Verde, como fazer círculos de sementes e preservar sementes, como manter um solo vivo e técnicas de regeneração de solo, e, por fim, como a alimentação pode influenciar e ser influenciada por todos estes aspectos.
Para compreender a importância e urgência de alterar a presente situação é fundamental existirem interligações entre todos. Estas ligações podem ser realizadas através de encontros entre pessoas com o objectivo de se organizar e trabalhar por um futuro que valorize mais as sementes, os solos e a soberania alimentar e dar a conhecer a outros o que se passa e como combater.
Todos temos escolha e podemos ajudar a inverter o rumo do sistema alimentar através da tomada de consciência sobre a origem dos produtos que adquirimos e ainda aprendendo a suprir parte das nossas necessidades com a nossa própria produção e/ou trocas com os outros produtores. As sementes livres estão no dentro de um sistema alimentar mais são e justo.